A
chuva ou precipitação ácida é o resultado de uma sobrecarga atmosférica de
poluentes. Este fenômeno surgiu expressivamente após a Revolução Industrial, ocorrida na
Europa, nos séculos XVIII e XIX e as primeiras pesquisas desenvolvidas foram
realizadas em 1872, pelo químico e climatologista Robert
Angus Smith, na cidade de Manchester, um dos grandes polos
industriais da Inglaterra. Robert foi o primeiro a utilizar o
termo “chuva ácida”, porém, só se houve uma percepção a nível mundial sobre
esse evento, em 1950, quando se concluiu que vários ecossistemas apresentavam
prejuízos.
Os
principais poluentes responsáveis pela manifestação deste fenômeno são o carvão
mineral e o petróleo, classificados como poluentes
"primários". São utilizados em indústrias na fabricação da celulose,
fertilizantes, nos ácidos sulfúrico e nítrico, na metalurgia de minerais não
metálicos, usinas termelétricas, refinarias e também em
veículos. Quando há queima destes combustíveis fósseis, ocorre na
atmosfera a seguinte transformação química: a água de rios, lagos e dos mares possui um pH 7, ou seja, um pH neutro (nem
ácida e nem alcalina). Quando evaporada, mistura-se com o gás
carbônico (CO2)
presente na atmosfera, gerando um ácido fraco, chamado de ácido
carbônico (H2CO3)
e seu pH altera para 5,6. “Este valor de pH, resultante da contribuição de um
gás naturalmente presente na atmosfera, indica que a água de chuva já é
levemente ácida.” [1] Os combustíveis fósseis quando
queimados produzem dois gases: dióxido de enxofre (SO2) e dióxido
de nitrogênio (NO2).
Estes dois gases ao atingiram a atmosfera produzem dois ácidos, os quais são
considerados como poluentes secundários: ácidos sulfúrico (H2SO4) e nítrico (HNO3).
[...] são formados na atmosfera através da oxidação fotoquímica dos gases
SO2, NO e NO2 com radicais livres (principalmente o radical hidroxila –OH)
ou através da oxidação destes gases ácidos com o peróxido de hidrogênio
(H2O2), com o ozônio (O3) ou com o oxigênio dissolvido no interior das
nuvens, neblinas e na chuva, neste último caso, uma reação catalisada por
metais traço com o Mn2 +, Fe2 + e Fe3+. [2]
Estes ácidos passam a
alterar ainda mais o pH da água da chuva, ficando abaixo de 5,6. Com isto, a
precipitação provoca uma série de alterações no meio ambiente, pois nem todos
os lugares suportam um nível de acidez tão alto. Além da chuva, o fenômeno
também pode se manifestar como neblina (precipitação seca) e neve. É importante
frisar que a chuva ácida também pode ser
causada por fatores naturais, porém não se há registros de
prejuízos significativos no meio ambiente senão pela ação antrópica. Os fatores
naturais são: atividade geotérmica, processos metabólicos de plantas marinhas,
costeiras, continentais, algas e fitoplâncton, além disso, pântanos e
manguezais também são fontes de liberação de compostos ácidos para a atmosfera.
Entretanto, o grande problema se concentra na atividade
industrial.
FIGURA 1 – O CICLO DE POLUIÇÃO DA ÀGUA.
FONTE: AMBIENTE TERRA. Chuva ácida. Disponível em:
<http://www.ambienteterra.com.br/saladeaula/chuva.acida/chuvaacida-07.php.>
Acesso em: 30 mai. 2007
Atualmente, esse fenômeno afeta também áreas que não possuem grandes polos industriais, isso prova que os gases formadores da chuva ácida são conduzidos pela ação do vento. Alguns pesquisadores indicam que a distância pode chegar acerca de 3.000
km. “Na
Europa, a poluição ácida é soprada sobre a Escandinávia, vindos dos países
circunvizinhos, especialmente da Grã-Bretanha e do Leste Europeu.” [3] Na América, o Canadá recebe forte
influência dos EUA, o Uruguai também é afetado pela poluição vinda do Brasil.
Fatores como altura das chaminés de indústrias, condições da atmosfera e
frequência de chuvas também interferem. A precipitação, neblina ou neve ácida produz uma série de perturbações no meio
ambiente, inclusive afetando a saúde humana. Os principais efeitos deste
fenômeno são:
- Solo: composto por rochas que se desagregam
pela ação climática e erosiva. As rochas podem formar solos com características
ácidas, neutras e ainda alcalinas. Superfícies compostas por calcários suportam
um nível de acidez mais acentuado, por conterem maior nível de alcalinidade. Já
superfícies compostas por granito, quartzito, arenito e gnaisses, ficam mais
vulneráveis a ação do ácido, por terem um nível menor de alcalinidade. Metais
tóxicos como alumínio, mercúrio, manganês, cádmio são encontrados em
pequenas quantidades nos solos, porém com a alteração do pH pela chuva ácida frequente, há uma intensa reação química e altamente nociva, que
afeta diretamente plantas, rios, lagos e animais. O alumínio, por exemplo, é
capturado pelas raízes das plantas, diminuindo a capacidade do vegetal em
absorver nutrientes e água, levando ao enfraquecimento e morte. “A chuva ácida
em contato com as folhas, atinge os estômatos, provocando um aumento da
transpiração, levando o vegetal a desidratação.”[4]
- Florestas: as
florestas também são seriamente afetadas, pois com o enfraquecimento das
raízes, muitas árvores ficam suscetíveis à
derrubada por ataque de fungos, insetos e pela ação do vento. Na
década de 70, a Floresta de Sudetos (localizada numa cadeia de montanhas entre a República Tcheca e a Polônia) sofreu um vasto desmatamento, pois recebia frequentemente a poluição por enxofre, vinda da queima de linhito, de indústrias
das cidades próximas. Várias espécies foram
extintas e atualmente há grandes áreas que se transformaram em campos
abertos. Outro exemplo é Cubatão, no litoral do estado de São Paulo, que nas
décadas de 70 e 80 teve grande parte da vegetação desmatada (Bioma Mata
Atlântica);
- Rios e lagos:
quando há uma alteração do pH da água de rios e lagos, devido à contaminação
por metais tóxicos vindo dos solos, afeta seriamente os processos fisiológicos
de animais aquáticos (ictiofauna). “[...] os peixes encontram maior
dificuldade para se reproduzir com êxito.”[5] Em geral, no período da primavera a acidez
fica mais intensa, por causa do derretimento da neve e é exatamente neste
momento em que os filhotes de peixes nascem. Se a acidez interfere, estes
filhotes não resistem e morrem. Com o pH abaixo de 6,0, várias espécies ficam
suscetíveis a desaparecer.
As aves também são afetadas, pois ao comerem
peixes contaminados por metais pesados, sofrem com sérios danos no organismo, o que pode ocasionar a morte. Seus filhotes nascem na maioria das vezes
com deformidades e há uma diminuição da capacidade protetora da casca, quebrando com mais facilidade. Outro ponto que não
se pode deixar de citar, que com a acidez
elevada, bactérias decompositoras de matéria orgânica não conseguem exercer
suas funções, provocando o aumento de detritos na água;
- Edificações
e monumentos: a chuva, neblina e neve ácida provocam a aceleração do
processo de corrosão de diversos materiais utilizados na construção de
edifícios, estatuetas, pontes, represas, redes e equipamentos. Geralmente o
desgaste natural pode levar até séculos para ocorrer. “Em 1984, a Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, Estados Unidos, teve de ser parcialmente desmontada para restauração porque a poluição ácida corroeu a estrutura metálica e o revestimento de cobre .”[6]
- Saúde
humana: fontes de água e peixes contaminados por metais pesados
liberados dos solos e também uma grande concentração de dióxido de
enxofre no ar, podem causar diversos problemas na saúde humana, como distúrbios
neurológicos, respiratórios, cardíaco e câncer. Em 1978, na cidade de Los Angeles, nos
Estados Unidos, as atividades industriais tiveram de ser paralisadas por 23 dias, escolas cancelaram
atividades externas, devido o alto índice de poluição do ar, que provocou
sérios danos à saúde da população da região. “Em Cubatão, no litoral do estado
de São Paulo, durante as décadas de 70 e 80, foram registrados casos de
crianças que nasceram sem cérebro ou com deformidades físicas,
consequência do excesso de ácidos poluentes jogados na atmosfera.”[7]
Para
que haja uma redução significativa de poluentes no ar, diminuindo a
possibilidade de chuva, neblina ou neve ácida, é preciso "juntar
forças". Não se trata de um problema exclusivo de países
industrializados, mas de um problema mundial, que exige a iniciativa dos
governos, de empresas públicas e privadas e a
colaboração da sociedade em geral. A substituição de combustíveis como o petróleo, gás natural e carvão mineral,
por fontes renováveis de energia é um recurso eficiente. As principais fontes
"renováveis" são: energia
geotérmica (utilização
do calor da crosta terrestre); energia eólica (captação por moinhos de vento); energia hidrelétrica (acionamento de geradores através de
quedas de água); energia
pelas onda do mar e ainda
a biomassa (a
combustão de matéria orgânica de origem vegetal). Outro ponto importante é fazer a
remoção de dióxido de enxofre de combustíveis, evitando o lançamento na
atmosfera. “Utiliza-se de dispositivos chamados dessulfurizadores, que são
instalados nas chaminés, onde é despejado cal sobre a fumaça.”[8]
Em relação aos transportes, é possível reduzir a poluição, incentivando o
transporte coletivo, também a substituição de ônibus por metrôs, por exemplo.
Nos automóveis, a adaptação de conversor catalítico e a utilização de gasolina
sem chumbo, convertem gases nocivos como o dióxido de nitrogênio em quase 90%,
sendo bem menos prejudicial ao meio ambiente. Alguns países como o Japão,
possuem medidas rigorosas sobre a emissão de gases dos escapamentos de
veículos. Grandes investimentos são necessários, começando com
planejamento e ações políticas, priorizando medidas ecologicamente
corretas, visando diminuir o uso de fontes poluentes primárias, para se
garantir uma atmosfera mais limpa, a conservação de recursos naturais, a
conservação da biodiversidade e saúde humana.
Texto elaborado pela equipe do Recanto da Bio.
Citações
[1] CIÊNCIA QUÍMICA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.cienciaquimica.hpg.ig.com.br/meioambiente/efeitoestufa-ca-oz.htm#A%20CHUVA%20ÁCIDA>. Acesso em: 01 jun. 2007
[2] Id.
Referências
[1] CIÊNCIA QUÍMICA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.cienciaquimica.hpg.ig.com.br/meioambiente/efeitoestufa-ca-oz.htm#A%20CHUVA%20ÁCIDA>. Acesso em: 01 jun. 2007
[2] Id.
[3] AMBIENTE TERRA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.ambienteterra.com.br/saladeaula/chuva.acida/chuvaacida-07.php> .
Acesso em: 30 mai. 2007
[4] USP. Chuva ácida. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/quimapoio/Chuvaacida.html>.
Acesso em: 30 mai. 2007
[5] AMBIENTE TERRA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.ambienteterra.com.br/saladeaula/chuva.acida/chuvaacida-07.php> .
Acesso em: 30 mai. 2007
[6] Id.
[7] SUA PESQUISA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/chuvaacida/ >.
Acesso em: 30 mai. 2007
[8] AMBIENTE TERRA, op. cit.
Referências
AMBIENTE TERRA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.ambienteterra.com.br/saladeaula/chuva.acida/chuvaacida-07.php> . Acesso em: 30 mai. 2007
CIÊNCIA QUÍMICA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.cienciaquimica.hpg.ig.com.br/meioambiente/efeitoestufa-ca-oz.htm#A%20CHUVA%20ÁCIDA>. Acesso em: 01 jun. 2007
SUA PESQUISA. Chuva ácida. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/chuvaacida/ >.
Acesso em: 30 mai. 2007
USP. Chuva ácida. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/quimapoio/Chuvaacida.html>.
Acesso em: 30 mai. 2007
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Obrigado!
PS - formatação e correção ortográfica (destacado em vermelho), ambos realizados em 02/05/13.
PS - formatação e correção ortográfica (destacado em vermelho), ambos realizados em 02/05/13.